quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Contos da Carochinha 2





Porque é claro que a minha onda de uruca não podia ter simplesmente terminado ali.

Ontem eu acordei com uma dor de cabeça infernal, fiquei a manhã inteira na cama sem conseguir levantar e já há 2 noites eu não consigo dormir por causa da dor. Hoje de manhã descobri o porquê: tenho um dente do siso nascendo. Não, ele não podia ter começado a nascer antes de eu vir pra cá ou esperado mais 128 dias pra nascer quando eu já estivesse de volta ao Brasil, onde eu posso facilmente ir a um dentista e tratar, ou simplesmente tomar uma dúzia de dorflex pra conseguir suportar a dor. Ele tinha que nascer bem aqui, durante os breve 10 meses em que eu estou num país onde as pessoas não vão ao médico, não tomam remédios e eu sequer posso comprar um analgésico na farmácia para aliviar a dor.

Então eu vou viver em dor e desespero pelo resto dos meus 4 meses e meio aqui. É isso.

Se pá pelo menos vou tomar juízo agora... ou não.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Contos da Carochinha

Eu já fiz uma cacetada de merda nesses quase 6 meses de Holanda, mas só essa semana eu poderia ter ganhado duas vezes o Prêmio Mundial da Cabeça Oca.

Sábado a noite, véspera do meu aniversário, resolvemos eu, Thaís e a Paty sair em Amsterdam pra beber alguma  coisa e comemorar meus 23 aninhos. Elas vieram jantar comigo aqui em Naarden e lá pelas 21:30 ou 22h pegamos o trem pra Amsterdam. Fomos lindas e contentes conversando no trem, despreocupadas da vida. Chegamos em Amsterdam, descemos do trem e continuamos andando lindas pra pegar o tram pro nosso nightclub favorito, o Coco's. Quando de repente eu passo a mão pelo meu braço e me dou conta que tinha feito bosta... eu grito pras meninas "MANO, ESQUECI MINHA BOLSA NO TREM!". Pânico. Desespero. Só lembro da Thais gritando "CORRE" e a gente saindo disparadas de volta pra plataforma pra ver se o trem ainda estava lá. A gente correu, mano como a gente correu! Em 30 segundos a gente tinha voltado pro fundo da estação e subido a escadaria de volta pra plataforma, eu e a Thais entramos correndo no primeiro vagão do trem que a gente viu, correndo e correndo dentro do trem que nem duas abestadas, saindo de um vagão e entrando em outro... até que em um dos vagões uma alma caridosa nos informou que tinha encontrado minha bolsa e devolvido ela pro condutor do trem. ALELUIA, naquele momento eu *quase* não detestei mais os holandeses! Então a gente correu, correu muuuuuitoooo até uma ponta do trem pra pegar minha bolsa com o condutor e quando chegamos lá não tinha ninguém dentro da cabine, aí a gente correu muuuuitooo pra chegar até o outro lado do trem, a Thaís gritando lá de uma ponta "É DO OUTRO LADO", eu no meio gritando pra Paty "VOLTA PRO OUTRO LADO", a Paty correndo pro outro lado, sem gritar porque ela é muito mais educada que eu e a Thaís, perguntando pro condutor do trem se ele estava com a minha bolsa. Eu cheguei na outra ponta do trem sem ar, sem conseguir respirar mais, e o condutor olhava pra gente com cara de "vcs beberam?" e disse que não tinha bolsa nenhuma e falou pra gente descer e procurar no achados e perdidos. E vamos nós três correr de novo escada a baixo. No meio do caminho a gente encontra uma mulher com uniforme que a gente achou que fosse a condutora que estava no trem, perguntamos se ela tinha visto minha bolsa e ela, com toda educação que só os holandeses conseguem ter, olha pra gente com cara de deboche e diz "é, vocês já passaram por mim três vezes aqui...". Ta, ok, não foi isso que a gente perguntou, e como a gente ficou meio chocada com a gentileza da mulher não respondemos nada. Aí ela resolveu ser prestativa e disse que a condutora que estava no trem tinha descido pra bilheteria e que a gente poderia achar ela lá. Nesse ponto eu já tinha perdido completamente as esperanças de achar minha bolsa inteira, eu só queria sentar e chorar... mas a gente desceu até a bilheteria, eu perguntei da minha bolsa pra moça no balcão e ela também foi mega gentil, me mandou ir pro fim da fila e esperar, nem olhou na minha cara. Mas aí no fim da fila estava quem? A abençoada condutora do trem que guardou a minha bolsa!! Eu nem acreditei, eu recuperei minha bolsa com TUDO dentro, celular, IPod, dinheiro, tudinho! Depois disso a gente ficou super atordoada, foram os 15 ou 20 minutos mais estressantes da minha vida. A gente sentou no tram e já estávamos cansadas. Não preciso dizer que não fomos ao Coco's no fim, o melhor programa da noite foi ir pra casa dormir depois do susto. Façanha da semana número um, done.

Mas isso não foi nada comparado à minha quinta feira urucada. Só pra começar, não eram nem 9h da manhã e meu notebook não funcionava mais e eu derrubei meu IPod da escada e quebrei o visor. Tudo dando certo já logo cedo, adoro. Como eu tinha que ir pra Utrecht de qualquer jeito pra ir na imigração pegar meu visto permanente, achei que ia ser uma  boa idéia passar no shopping pra comprar um note novo, já que o meu já não dava mais pro gasto fazia tempo e agora tinha resolvido pifar de vez. Fui feliz, com todas as minhas economias, inclusive todo o dinheiro que eu tinha no meu Visa Travel Money (uma espécie de cartão de débito), decidida a comprar um notebook BOM que não fosse durar só 6 meses como o outro. Demorei um bocadinho na loja, escolhi bem o computador que eu queria e fui feliz da vida pagar. Mais uma vez, me vi tendo que lidar com a boa vontade, gentileza e prestatividade dos holandeses na hora de pagar. A vaca moça do caixa nem olhou na minha cara e disse que não ia aceitar meu cartão. Ela ainda teve a cara de pau de dizer "vc precisa saber a senha do cartão pra poder usá-lo", assim como se eu fosse ter um cartão e não saber a senha, ou como se eu tivesse roubado ele. Mas com essa galera aqui é assim mesmo que funciona, então eu respirei fundo, dei um sorrisinho e disse pra ela que eu ia tirar o dinheiro no banco e voltar pra pagar em cash. Aposto que ela achou que eu não ia voltar mais, mas a cara dela quando eu voltei com os 400 euros na mão pra pagar pelo meu notebook novo foi linda. Até aí eu achei que tudo estava indo melhor do que o planejado, fui alegre e cantante (cantante mesmo, e não contente), carregando meu computador novo, até a imigração pra pegar meu visto. Chegando lá, uma espera de 30 e poucos minutos. Já era mais de meio dia, mas eu estou de folga às quintas feiras, então não me preocupei com a demora. Passam, 10, 20, 30 e alguns minutinhos e finalmente chega a minha vez. Quando eu olho pra menina na minha frente, guardando o passaporte dela na bolsa, eu me dei conta de que esquecer a bolsa no trem é normal, mas vc sair de casa pra ir até a Imigração e NÃO levar o próprio passaporte é coisa de gente burra. Afinal, quem é que vai até a imigração buscar o visto e não leva o passaporte???? EU :D
Mas como já estava na minha vez eu achei que não custava tentar pegar o bendito visto só com a carta da prefeitura e meu documento. Óbvio que não deu né, e eu ainda pedi desculpas pro cara do guichê, só porque eu me senti tão burra que achei que devia me desculpar por ter feito ele perder o tempo dele com uma pessoa que se esquece de levar o passaporte pra retirar o visto. Voltei enfurecida pra casa, no meio do caminho a sacola que eu estava carregando o notebook arrebentou, tive que carregar a caixa na mão até a estação e ainda dar um jeito de trazer ela na bicicleta até em casa. Deixei o computador no quarto, peguei a porra do passaporte e vooei de volta pra estação, resolvei dar uma de João Sem Braço e peguei o trem pra Utrecht usando o mesmo bilhete que eu tinha comprado de manhã, voltei na Imigração COM o passaporte e dessa vez consegui pegar meu visto. Até aí já eram quase 16h, eu tive que pedir pra vizinha buscar minha menina na escola pra mim e pra piorar meu humor eu não tinha comido nada desde as 8h da manhã. Mais uma vez voltei pra casa, e dessa vez eu achei que meu dia já tinha acabado e eu ia poder sentar feliz usando meu novo computador. Mas Murphy me adora demais, e quando eu tentei ligar o notebook pela primeira vez, ele simplesmente não funcionou. Encurtando a história, depois de meia hora lá estava eu pegando o trem pra Utrecht pela TERCEIRA vez no mesmo dia (com o mesmo cartão que eu comprei de manhã....). Ter comprado um computador que não funciona e ainda ter que chegar lá pra aturar de novo aquela simpatia de pessoas acabou de vez com meu humor (não que isso seja difícil), mas além de a moça do caixa ter sugerido que eu estava tentando usar um cartão roubado, o cara da assistência ainda tinha que dizer que não entendia como o computador podia não estar funcionando e que eu deveria ter feito alguma coisa pra ter acontecido aquilo. Eu não me dei o trabalho de dizer pra ele que a única coisa que eu tive tempo de fazer com aquela merda de notebook foi tirar ele da caixa, mas eu acho que ele deduziu pela minha cara que eu não estava nem um pouco feliz, e resolveu trocar o computador pra mim. E enfim, pela terceira vez, eu voltei pra casa. Mas pelo menos dessa vez o computador estava funcionando.

Se alguém jogou uruca em mim, tenho que admitir que ela pegou mesmo. Ou será só culpa do meu miolo mole?

Ser cabeça de vento no seu próprio país é fácil, quero ver você tentar ser tapado em outro país!